“… o paciente diabético, no geral, está divorciado de seus pés, pois…
… é incapaz de vê-los, devido aos problemas visuais e incapaz de senti-los devido à perda de sensibilidade…”

O que é Pé Diabético?

Diabetes e problemas do pé são quase sinônimos. Os diabéticos são propensos à doença do pé e o temor da perda do membro está sempre presente em suas mentes, assim como os esforços para cuidar da saúde. É uma concepção errônea pressupor que todos os diabéticos possuem uma circulação precária, porém é verdade que cerca de 80% deles apresentam algum tipo de comprometimento vascular. Assim, o diabetes melito pode dar origem aos problemas do pé, já que podem predispor os pacientes à aterosclerose periférica com isquemia associada. A neuropatia periférica pode ainda propiciar atrofia secundária dos músculos esqueléticos nas pernas e nos pés.

Sintomas e Sinais

A doença do pé diabético pode manifestar-se por três pilares: neuropático, isquêmico e infeccioso. Apresenta-se de maneira isolada ou associadas ( neuropático/isquêmico; neuropático/infeccioso; isquêmico/infeccioso).

Pé neuropático: possui sensibilidade precária e boa circulação. A perda de sensibilidade nos pés os tornam vulneráveis a traumatismos, porém a boa circulação faz com que sejam mais capazes de se recuperar. O paciente diabético com pé neuropático conta com antecedentes neurológicos periféricos (choques, fisgadas, queimação). Os achados habituais são: tecidos bem nutridos, diminuição ou ausência de sensibilidade, tendência para retração dos dedos, calosidades nos pontos de pressão (feridas indolores na planta do pé denominadas mau perfurante plantar).

Pé isquêmico: possui a sensibilidade preservada e uma circulação precária. Devido à isquemia o pé é vulnerável a traumas. A isquemia torna o pé muito sensível a qualquer lesão, fissura ou inflamação. Geralmente está associado à claudicação intermitente (dor para caminhar). Os sinais de isquemia podem ser: pele seca e descamativa, ausência de pelos, atrofia dos músculos, tendência à formação de fissuras nos calcanhares, redução ou ausência de pulso e palidez. Esta falta de sangue poderá se dar pela obstrução das grandes artérias que irrigam a perna (macroangiopatia) ou pela oclusão das microartérias que irrigam os tecidos dos pés: pele, músculos e nervos (microangiopatia).

Pé infeccioso: apresenta lesões infecciosas do tipo bolhas, abscessos, presença de pús, tecido necrótico ou desvitalizado, odor fétido. Costuma ter evolução muito rápida com altos índices de amputações.

Diagnóstico

O exame clínico das doenças vasculares periféricas baseia-se na procura e interpretação de sintomas e sinais. Mais de 90% das doenças vasculares periféricas podem ser diagnosticadas clinicamente desde que esse exame seja realizado de maneira sistemática e cuidadosa. Ao final da avaliação, pode-se chegar a um diagnóstico anatômico e funcional e ao grau de acometimento de órgãos e tecidos.

É importante considerar:

História: úlcera prévia e amputação, isolamento social, falta de acesso aos cuidados de saúde e uso inadequado de calçados;

Neuropatia: sintomas como formigamento ou dor nos membros inferiores, especialmente à noite;

Aspecto vascular: claudicação intermitente, dor em repouso, pulsos distais;

Pele: cor da pele, temperatura, edema;

Ossos e deformidades articulares: dedos em garra, martelo ou proeminências ósseas;

Também deve-se dar atenção à perda sensorial devido à polineuropatia diabética. Para tanto é feito o teste Semmes-Weinstein (monofilamentos) – utiliza um filamento sintético de 10 gramas que ao tocar o pé sofrerá uma envergadura. Ele é o suficiente para detectar a presença da neuropatia (perda da sensibilidade protetora dos pés).

Importante!

• Todas as pessoas com diabetes devem ser examinados pelo menos uma vez ao ano por apresentarem maiores potenciais de problemas nos pés.

• Pacientes com presença de fator de risco devem ser examinados todos os meses ou a cada seis meses.

• Ausência de sintomas não significa que os pés sejam saudáveis; um paciente pode ter neuropatia, doença vascular periférica ou mesmo úlcera sem queixas.

• Os pés devem ser examinados com o paciente deitado e em pé, e os sapatos e as meias também devem ser inspecionados.

Identificação do pé em risco

A cada paciente pode ser atribuído uma categoria de risco, que deverá orientar no seu seguimento e conduta clínica.

O pé está em risco se alguns dos fatores abaixo estiverem presentes:

Categoria de risco e retorno ambulatorial:

Tratamento

Tratar o paciente com “pé diabético” é mais que tratar dos problemas existentes e sim manter vigilância rigorosa na prevenção.

  • Acompanhamento médico com equipe multidisciplinar: endocrinologista, cirurgião vascular/angiologista, dermatologista e podólogo.
  • Uso de calçados apropriados, de meias de algodão, evitando meias sintéticas. Utilização de antissépticos e hidratantes.
  • Atenção especial às lesões de pele, calosidades, rachaduras, micoses entre dedos, afinal, elas levam às infecções.
  • Nunca aquecer os pés em água morna: eles podem estar com a sensibilidade diminuída e, com isso, sofrerem grandes lesões (os pés cozinham sem que o paciente perceba)
  • Nas neuropatias, fazer uso de medicações específicas
  • Nas lesões isquêmicas: revascularizações ou angioplastias.
  • Nas infecções: antibióticos de amplo espectro com início precoce.
  • Seguir rigorosamente o quadro de categoria de risco e retorno ao consultório.